Arquivo do mês: maio 2010

Duas pérolas…

Um sábado destes, saí pela manhã brillante de Barcelona, sem nenhum objetivo além de respirar o ar fresco entre as ruas estreitas do bairro gótico, observar a diversidade da fauna humana que cruza suas calçadas… sentir o pulsar de seus corações, quase todos enamorados pela cidade.
Quer programa melhor?
Pois sim.
Garimpar as pérolas que guardam as esquinas de pedras ancestrais de seus palácios e igrejas.
Concerto ao ar livre em BarcelonaEm uma delas, encontrei um grupo de pessoas que cercava um músico cego. A voz da criatura se elevava sobre um centenar de cabeças e cantava maravilhosamente as antigas canções de toda a minha vida. Sentei num canto perto e fique ali, não sei  por quanto tempo, mas fiquei com ele, seu concerto e minha história. Que sensação tão boa de felicidade! Eu sorria sozinha.
Diante de mim havia um homem que, de olhos fechados, vivia cada música, estalando os dedos e movendo levemente a cabeça no ritmo de cada canção. Entre uma e outra canção, as pessoas mudavam, umas saíam aplaudindo, outras paravam, adiando um pouco a chegada ao seu destino. Umas poucas, como eu e o sujeito dos olhos fechados, estavam sem destino certo, entregues a cada descoberta, sem nenhuma vontade de perder o espetáculo inteiro. Ficamos até que o homem começou a guardar sua guitarra. Comprei seu disco. Chama-se Aaron Lordson. Foi uma boa idéia. Escuto-o agora e sorrio levemente sentindo outra vez o perfume do vento marítimo de Barcelona, experimentando outra vez a sensação de felicidade singular que aquele momento me trouxe.
Arias de óperas nas calçadas de BArcelonaAndei mais um pouco, tentando perder-me o mais possível pelos belíssimos becos cheios de varandas floridas, quando outra pérola me fez parar. Especialíssima! E esta estava praticamente sozinha. Um senhora linda, com um cabelo preso num coque antigo, cantava arias de ópera sobre um balcão elevado da calçada de um palácio. Ao seu lado, uma cadeira com una cestinha para as moedas e um cartaz que dizia “Aulas de Canto Clássico, fone tal e tal” .
A senhora já não tinha tanta força na voz para os tons mais altos e então entrecortava-os com classe e doçura. Uma emoção funda me invadiu. Quase chorei… Que presente!
Então sentei do lado oposto da calçada e deixei que ela cantasse Mimi, de La Bohème, para mim, enquanto os passantes, turistas apressadinhos com seus mapas na mão, evitavam parar para não precisar colocar uma moeda em sua cestinha.
Pedi licença para fazer a foto e deixei minha moeda, agradecida e enfeitiçada pela sua beleza.
Precisava guardar esse momento para compartilhar aqui. Depois de tanto tempo sem computador e sem Internet decente, seria uma boa reentrada em cena. Ou não?
Ps: Olha só o que encontrei no iutubi. Hohoho! Ela se chama Pilar Rodrigues.

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