Arquivo do mês: agosto 2007

Agostos…


Mais um verão.
Desta vez, como em todas as outras, o que parece igual é tão diferente!
Em agosto de 2003 a temperatura parecia não ter limites, chegava a roubar-me o humor, o prazer de existir.
Naquele agosto a saudade do inverno já havia sentado na sala com um leque na mão a abanar-se, a desejar as praias nordestinas, perdida na absoluta falta de memória que o afeto provoca quando se está tão longe dos lugares que ajudaram a construir a própria pele. Quem se lembrava das chuvas e dos mosquitos dos antigos agostos do Janga ou de Toquinho? Nem eu nem ela.
Todos os agostos as agências de viagens espanholas tomam conta da metade dos principais jornais e enganam a todos fingindo que é verão em todas as partes do mundo, como se essa fosse a única estação do ano em que é possível ser feliz.
Voe para o paraíso… Quem disse que verão com calor abrasador é paraíso? Nunca foi. Para mim se não é o inferno, chega bem perto.

Mas o verdadeiro inferno daquele agosto foi encontrar-me com o inesperado medo de haver-me equivocado, o terror de haver inventado um amor. Um agosto em que as noites insones eram maiores que os dias, os cigarros eram a falsa companhia no silêncio de uma sala vazia enquanto o coração tentava ancorar-se nas lembranças do agosto anterior, quando o único que eu desejava era que a saudade se deixasse morrer e me permitisse ficar aqui para o que desse e viesse, sem praia sem nada, mas dormindo todas as noites, absurdamente feliz, as pernas entrelaçadas e o rosto a meio centímetro de uma barba perfumada.
Novamente é agosto. E desta vez, como em todas as outras, o que parece igual é tão diferente. Em outro agosto, toda chuva do mundo caiu dentro do peito. Foi o mês mais frio que já passou minha alma.
Seis anos atrás a Princesa se foi, justo ao primeiro dia, e o mundo passou a ter outros significados. Frio deixou de ser oposto ao calor e passou a ser vazio, oco, falta, medo, dor, morte… de uma forma como nunca havia sabido ser. Nem mesmo aquela outra, de muitos anos antes, também uma dor de agosto, e que veio junto com a certeza de que a separação era inevitável…
Desta vez, como em todas as outras, o mesmo agosto é tão diferente. No ano passado eu estava em prantos na sala, com uma roupa escolhida com cuidado e na mão uma pasta azul cheia de papéis com os prazos de validade quase vencidos e acabando de chegar de uma terceira frustrada tentativa de entregá-los ao registro civil de uma cidade onde ninguém pode casar-se nestas datas. Neste país, o mundo sai de férias todos os agostos, por mais iguais ou diferentes que eles sejam…
Pois sim…
É agosto e o mundo saiu de férias. Estamos de novo sós com nossa história.

Desta vez, como em todas as outras, o que parece igual é muito diferente. Agora o calor não parece insuportável e deixa entrar umas brisas refrescantes que transformam as noites claras em verdeiras delícias. Além do mais, um veleiro de madeira, antigo e cheio de histórias, nos aguarda em Galícia, onde por dez dias vou realizar outro dos meus quase impossíveis sonhos: navegar à vela com olhos-de-mar-azul.
Figa!
Por se acaso…

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