Arquivo do mês: junho 2007

Companheiros de Cabeceira…

Pois sim…
Meu amigo pernambucano, Manoel Carlos, dono do blog Agreste pediu-me há mais de um mês que eu escrevesse um post sobre o livro que habita, neste momento, minha mesinha de cabeceira. Parece-me que o pedido faz parte de uma rede, como uma corrente entre blogs.
Como podem ver, eu não respondi no tempo ideal, mas como prometi e promessa é dívida, não é?
Então…

Sempre tenho entre quatro ou cinco livros abertos à minha volta…
Geralmente há uma novela, um de poesia, outro de arte ou história. Talvez uma biografia ou um ensaio.
E muitas vezes um daqueles que é para o resto da vida. Aqueles que a gente lê e relê e relê… e para sempre vai ler!
Preciso urgentemente de uma cabeceira mais ampla! Inclusive já estou desenhando uma cama, para um futuro breve, que tenha uma pequena estante no lugar do espelho. Ho ho ho!
Qual deles vou abrir em diferentes horas do dia ou da noite, depende de minha alma.
É verdade. Ela é quem escolhe. Meu espírito pede poesia ou arte nas noites mais inquietas, de insônia, de medos com nome ou sem…
A poesia me acalma. Me envolvo na música contida dentro de cada verso, me apaixono pelo poeta e pelo objeto de sua poesia, quero não apenas senti-los, mas poder recitá-los em voz susurrada, para escutar seu canto e com ele acalmar as ânsias de meu coração…
Pareço meio bêbada quando leio poesia… mas quase sempre não sei comentá-la. Com ela meu amor é platônico. Eu só sei vivê-la. Por isso fico sem jeito quando quero deixar um comentário nos blogs maravilhosos de Márcia Maia, Dora ou Sílvia Shueire. Essas mulheres arrasam!

Eu as admiro imensamente, mas só consigo respirar diferente quando leio o que escrevem. Se fosse comentar seria com as próprias palavras que elas usaram para seus versos…aí eu travo.
Qualquer dia vou pedir permissão para publicar alguns de seus poemas aqui.
Quando estou mais tranquila, serena, posso encarar melhor as novelas, viver suas tramas, sentir as emoções de seus personagens, mergulhar nas suas experiências.
Ultimamente ando muito sensível. A violência, a crueldade, a insensibilidade das pessoas ao causar o sofrimento alheio me magoam tanto! Evito, quando posso, o noticiário da TV sensacionalista, sanguinolenta, o filme carniceiro, a maldade crua como “meio de entretenimento”.
Em alguns momentos até evito retomar a novela que estou lendo para não permitir que ela me revolva o estômago ou degenere a esperança que insisto em manter na generosidade dos seres humanos. Se estou desorganizada em meus sentimentos, prefiro esperar pelo dia seguinte.
Algumas novelas tiveram que esperar semanas!
Enquanto estava lendo Os Pilares da Terra, de Ken Follet, ou A Ponte de Alcântara, de Frank Baer, sonhava noites seguidas com a miséria humana, a forma despiadada com que eram tratadas as mulheres em todos os tempos e todas as culturas e religiões, o comportamento mesquinho e falso das instituições políticas e religiosas, que a priori existiam para defender, proteger, educar as pessoas…
No entanto, achei ambas novelas maravilhosas, porque traziam cultura, história, religião, costumes de épocas e povos distantes para dentro de minha casa e eu podia viajar no tempo, na história, sem mover-me do sofá!
Mas precisava estar tranquila, em paz interior, para poder ler e resistir à vontade de deixar cair o livro no chão e chorar de tanta tristeza e desesperança… ou atirá-lo na parede em frente, de tanta raiva!
Se pelo menos eu pensasse que aquelas crueldades aconteciam “naqueles tempos” bárbaros e que havíamos evoluído como humanos do século XXI!
O pior é que não, não evoluímos. É só assistir os noticiários…
Ah!… tem dias que eu não aguento mesmo!
Arte! Isso sim. Ah! Que delícia!
Um bom livro sobre arte… uma boa música e uma infusão de ervas relaxantes, bem quentinha ( uma saudade do cigarro! ) e meu astral começa a entrar em equilíbrio. Gosto de ler sobre pintura, escultura, fotografia, cinema. Gosto de ler sobre música, sobre músicos de todos os tempos. Mas sei tão pouco!
Gosto também, ultimamente, de arte culinária, coisa que eu nunca fui muito chegada até pouco tempo.
Tá bom! Se a desorganização interna for muito grande, melhor esquecer o livro sobre os doces árabes, por exemplo! Nesses momentos, ler sobre comida pode despertar uma das minhas bruxas más e fazer-me engordar só com a saliva que as fotografias me provocam.Shiiii!
Taí, está sendo muito bom comentar sobre tudo isso. Até agora eu fazia as escolhas sem tanta consciência da interrelação entre minhas leituras e meu estado de ânimo…
Hum! ainda não atendi o pedido do meu amigo!
Apesar da demora, vou falar dos livros atuais. É quase outro post, mas como tenho escrito pouco… lá vou eu.
Agora estou com quatro livros na minha cabeceira. Eles andam do quarto para o sofá da sala ou a rede do invernadeiro. E podem ser substituidos, provisoriamente, por artigos de jornais e revistas ou textos que recebo pela Internet e que imprimo para ler depois de cortar a conexão…pinnnnnn!
A novela chama-se El Corazón Helado, de Almudena Grandes. Estou adorando! Gosto muito do estilo dessa escritora. Gosto da forma como ela desenvolve os personagens, como faz a gente ir desenhando mentalmente seus traços físicos, seus afetos, suas almas, enquanto a gente vai entrando por eles, como atravessando suas peles, vivendo, sofrendo e amando junto com eles.
Gosto como organiza a história, navegando entre passado, presente e avisando um pouco o futuro do personagem no mesmo momento da ação.
Gosto como faz sua gente falar com a naturalidade de uma conversa real e corriqueira, cada qual com seu acento natural de lugar ou de época vivida.
Adoro como costura o diálogo com a narração, sem sair do parágrafo.
Almudena constrói esta sua última novela com as vidas entrelaçadas de emigrantes, exilados da guerra civil espanhola e seus descendentes. Mostra como eram suas vidas no exílio e como foi voltar ao próprio país tantos anos depois… e reconhecê-lo nos cheiros, nos gostos, na luz de seus céus…
Ainda nem cheguei ao meio do livro… depois conto mais.

Como sei pouco sobre a Guerra Civil na Espanha, tenho que acompanhar a leitura com um livro de História que me ajude a localizar onde está a ficção da novela e onde a realidade daquele conflito no país.
Utilizo agora a Breve História de España, de Fernando García de Cortázar e José Manuel González Vesga.
Tem sido simplesmente fantástico juntar os dois livros! Aprendo muito!
A linguagem é simples, direta, sem desvios.
Como o livro pretende ser uma explanação breve, os autores centram-se nos fatos concretos, o que não os impedem de traçar linhas de interelações com as circustâncias históricas universais.
Indico esse livro a quem quiser conhecer, em linhas genéricas, a história desse belo país.

Também tenho um volume sobre Tintoretto por perto, pois depois de ver a última exposição do magnífico pintor italiano, em Madrid, no Museo del Prado, estou querendo saber mais sobre ele e suas obras, para escrever um post.
Confesso que está meio abandonado. Mas vai sair…
Estou enamorada de dois de seus quadros. Um deles vive eternamente no museu madrileño e sempre me demoro diante dele. Chama-se El Lavatorio.
O segundo é sobre a mitologia, Suzana en el Baño. Ambos maravilhosos!
Vou escrever um post daqueles de antigamente, dos tempos do Impressões ou Cicatrizes da Mirada. Quando der…
Voltando à cabeceira…

O livro de poesia é uma compilação de poemas de amor em língua espanhola que ganhei do meu Lobo do Mar, e que voltou há pouco para a mesinha de noite.
Durante a tal crise eu precisava recordar umas emoções que ele havia me provocado, mais de cinco anos atrás. Chama-se Antologia de las Mejores Poesías de Amor en Lengua Española, de Luis María Anson.
E, para terminar, ganhei de uma amiga muito querida, quando voltava de Recife , um delicioso livro de Gilberto Freyre, Olinda – 2° Guia Prático, Histórico e Sentimental de Cidade Brasileira, com apresentação e atualização de um dos maiores conhecedores da obra freyriana, Edson Nery da Fonseca, morador de Olinda e professor emérito da Universidade de Brasília.
Esse também está na minha mesinha de cabeceira… e vai e volta comigo para a rede do invernadeiro, que está cada dia mais irresistível!
Assim tenho passeado pela casa e pelas horas, acompanhada desses livros fantásticos…
Finalmente ando sem pressa, sem agonia para terminá-los e iniciar outros – angústia que me acometia cada vez que via a quantidade de livros bons que temos nas estantes e que eu gostaria de já ter lido – aproveitando para saboreá-los como eles merecem.
Bom, meu amigo, perdoe-me pela demora. Eu tardo mas tento não falhar demasiadas vezes.
Obrigada por haver indicado a mim, uma blogueira tão inconstante e cheia de silêncios.

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Crise de Ego…

Andei, por andar andei… e nem todo caminho deu no mar, saio cantando pelas trilhas no alto do monte, rodeada por pinheiros, amapolas, margaridas, florzinhas azuis e brancas que nem sei o nome e me deparo com a vista do campo de trigo do terreno vizinho que volteia com o vento como um mar verdinho ondulado por pequenas ondas marítimas. É tão parecido com um mar de verdade que eu agradeço pelo presente e canto ainda mais alto, como se fosse filha de Caymmi, mesmo sabendo que a verdadeira música não é assim e que sou apenas a filha do Lorde, meu pai , pernambucano com ares de inglês perdido pelas Américas, que cantava como baiano nas tardes de manso sol e pesca paciente das arraias do Janga de antigamente, tão esquecido de sua tendência anglo saxônica e por isso mesmo ainda mais bonito…
Essa é umas das lembranças que afloram em mim cada vez que vejo o verde claro de um mar, mesmo que seja um que é só miragem.
A onda do mar leva… a onda do mar traz, quem vem para beira da praia , morena, não volta nunca mais… sigo cantando.
Mas eu voltei. E tive um banzo maior do que poderia permitir-me. Saudade de minha gente, dos vivos e mortos da minha história mais que tudo. Talvez também aí um pouco de saudade de mim. Dos tempos em que estudava e trabalhava, correndo atrás de um futuro que eu nunca imaginei iria mudar tão radicalmente.
Dizem que a Primavera traz em si a nostalgia. Pode ser. Mas traz também as amapolas e elas salvaram minha alegria.
Uma multidão de amapolas invadiu meu território!
Verdadeiros mares rubros de flores, pequenitas, de tão poucas pétalas, frágeis como o papel de seda , balançando na ponta de talos peludos e débeis, tão fáceis de romper-se que a gente se surpreende que não voem pelos ares com a força de qualquer pé de vento.
As amapolas são como embaixadoras da alegria.
Não há como não rir de boca inteira quando as vemos e eu tenho a sorte de viver muito perto delas.
Por toda parte dos campos elas estão, brincando de serem beijos encarnados da natureza, fazendo cócegas no corpo da gente…

E as rosas.
As mais belas senhoras da primavera madrileña.
Embaixadoras da classe e da elegância, dignas de paixão ou ternura, elas enamoram as pessoas.
Essas me salvaram de uma crise de ego fenomenal!
Uma crise daquelas que a gente fica sem dormir, pensando numa estratégia imediata e eficaz para mudar de personalidade, de nome, de cor da pele e cabelos, de idade, de corpo, de mente e até de alma!
A gente quer se internar num hotel desconhecido e distante de todos e voltar, no dia seguinte, claro! completamente renovada: mais bela, mais magra, mais jovem, mais leve, mais alegre, mais inteligente, mais sagaz, mais culta, mais sexy, mais bronzeada, mais esportiva, mais generosa e segura, mais tudibom.
A estratégia inclui também uma remodelação completa do guarda-roupa: sapatos ma-ra-vi-lho-sos, saias suavemente esvoaçantes, jeans que modelam sem estufar nenhuma dobra ( que dobra?), blusas que não apertem os bracinhos de ex-boxeador (grossos e moles) que de passagem, melhor, deixamos lá naquele hotel desconhecido e ninguém nunca vai saber que a gente os tinha. Trazemos outros mais magros e duros e muito mais estéticos para enfiar numas jaquetas esportivas encantadoras ou levar penduradas as bolsas mais di-vi-nas.
Seria bom uns vestidinhos graciosos, top sexies e pantalonas de gaze para as noites onde a gente pretende abalar a partir de agora! Me aguardem!
E perfumes. Os melhores, mais afrodisíacos e delicados de todo o planeta.
E para completar a transformação, uma coleção de roupa interior, nova, radical-chic, daquelas de revista semanal, bem fofas! Caríssimas, é verdade, mas tanto faz pois são simplesmente impossíveis de encontrar no tamanho extra!

Tóin!
A realidade se impõe! Oh! não… e lá se foi a noite inteira. O relógio marcando quase quatro da manhã, a gente ainda não dormiu e pior, não emagreceu nadica de nada, nem está mais sexy e menos ainda mais inteligente. O idioma novo que a gente ia dominar num pis-pás também não avançou nem uma polegada. Vaya!
Ainda por cima a gente sente pontadas homéricas de fome! ( como assim?), e tem fantasias erótico-festivas de comer qualquer coisa doce e fria, chamada vulgarmente de sorvete, mas que felizmente não tem no congelador porque já faz tempo que não compra essas caixinhas de culpa gelada. Felizmente??!

A gente se vira para um lado e para o outro e nada de sono nem de resolver coisa alguma na vida!
Ainda olha para o peixe-gato que dorme tranquilamente no lado de lá da cama e pensa como é que vai fazer para mante-lo bem ali, juntinho… e parece que o danado escuta a inquietante pergunta e abraça, meio dormindo, a barriga que a gente faz o maior esforço para perder ou devolver a quem a tenha perdido, por favor que aquilo não faz parte da gente, seguramente! – mas que insiste em manter-se colada, grudada, incrustada… e bem palpável, exatamente ali onde ele põe a mão.
Meujesuscristinho, me ajude!
No dia seguinte, que é o mesmo que o dia anterior porque não vale ser “dia seguinte” quando a gente nem dormiu nem acordou, as olheiras confirmam que é urgente encontrar esse hotel desconhecido e distante para se internar agorinha mesmo!
E se ele disser que a gente parece meio cansada, melhor não responder nada que é para o choro não jorrar pelos sete buracos da nossa miserável e infantil cabeça!
Pois sim… crise de ego. Passei uns dias ( e noites ) perdida nela. Querendo ser outra para ser mais exata!
Até que vi as rosas, logo depois da tromba d´água que atingiu Madrid. Maravilhosas!
Elas provocam tamanho sentimento de admiração que as pessoas se enamoram, não apenas por elas, mas também por si mesmas. Assistir sua exuberância perfumada florescer de troncos tão grossos, tortos e escuros… ver seu amanhecer molhado de orvalho, suas pétalas de texturas e cores extraordinárias saírem de tão antigos armários, me renovou o espírito.
Mesmo sem hotel desconhecido e sem perder nem uma grama de peso, organizei a roupa do armário, recuperei blusinhas simpáticas, comprei umas poucas peças básicas, soltas, leves e claras, cortei os cabelos, claro! sem isso nada seria suficiente, não é? e devolvi a eles sua cor original. Agora tenho os cabelos da mesma cor de toda a vida, castanhos escuros, e isso quer dizer que me olho no espelho e me reconheço… pelo menos tento!
Comprei sandálias de esparto, bem típicas da Espanha, saias bonitas, coloridas e alegres como a Primavera e saí por aí com meu Lobo do Mar: Cartagena, Segóvia, Zamora, Toro, Londres, Tarifa, em menos de sessenta dias.
Revi amigos queridos, fiz novas amizades, vi a arte de Tintoretto no Museo del Prado…
Tá bom. Confeso. Também fiz cartase na cozinha. Aproveitei uma noite diante de um bom tinto Rioja, um queijo curado de ovelha e azeitonas cartaginesas e derramei sobre olhos-de-mar-azul minhas mais profundas fantasias de auto-rejeição e recebi amorosos elogios, dengos e tudo o que precisava.
Benzadeus!
Agora é curtir as rosas, o finalzinho da Primavera e tentar desviar minha atenção das neuras femininas do biquine, das piscinas e praias do verão ibérico…
Vou ter que comprar um maiô bem chic! A arte será achar um tamanho extra!
Toc-toc… não quero nem pensar!

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