Arquivo do mês: julho 2008

Praia com névoa!

Névoa na Praia dos Lances
Névoa na Praia dos Lances.
Vinda do nordeste do Brasil, jamais imaginei a beleza de ir à praia com uma névoa dessas…
A semana passada a Praia dos Lances, em Tarifa, estava imersa numa bruma esbranquiçada e apesar disso em sua orla estavam as crianças jogando, os jovens em suas pranchas…e eu com a câmara na mão, rindo. Durou quase uma hora.
Coisa mais linda e feliz estar ali naquele momento!

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Gastronomia Andaluza

 

Um dos pratos que mais gosto quando estou em Córdoba é o Salmorejo.

Consiste de uma sopa cremosa de tomates para tomar fria.

É prima do Gazpacho Andaluz, só que tem uma consistência diferente e leva menos ingredientes. É simples de fazer e deliciosa!

Aí vai a receita de minha cunhada.

Ela faz o melhor salmorejo que já comi.

 

Aproveitem!

1.1/2 KG DE TOMATES FRESCOS
1/2 KG DE PÃO DURO (DO DIA ANTERIOR)
1 DENTE DE ALHO
300 ML DE AZEITE DE OLIVA
GOTAS DE VINAGRE DE VINHO
SAL A GOSTO
1 OVO COZIDO
Deixe o pão de molho na água para que amoleça. Depois escorra bem, espremendo com a mão e junte aos tomates picados, o alho, o sal e umas gotinhas de vinagre. Triture bem e vá juntando  o azeite pouco a pouco para que se forme um creme.
Depois de provar para ajustar o sal e o vinagre, passe por um coador para retirar qualquer indício de peles ou sementes de tomate.
Leve à geladeira por uns vinte minutos.
O Salmorejo de Córdoba deve ser servido frio, mas não muito gelado.
Sirva num prato fundo e por cima jogue uns trocinhos de ovos duros e quadradinhos de presunto crú.
É uma delícia!!!!
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Enamorada por Córdoba…

Mas uma vez estive em Córdoba. E mais um vez me enamorei pela cidade. Sempre acontece…
Há tempos atrás escrevi em outro blog algo sobre esta linda cidade espanhola e tive o enorme prazer de haver incentivado, com minhas impressões, alguns brasileiros a quererem conhecê-la. Nenhum deles se arrependeu. Inclusive, sempre que pude, acompanhei amigos e lhes mostrei o que me havia cativado.
Vou aproveitar um pouco dos meus arquivos de texto e de fotos e acrescentar algumas novas experiências, principalmente as gastronômicas. Desde que estou aqui, muita coisa aprendi sobre os sabores mediterrâneos. A comida em Córdoba, como em toda Andaluzia, é um importante atrativo. Além de maravilhosa, tem preços muitíssimo mais baratos que em Madrid.

Então…
Um mísero final de semana sempre é insuficiente para aproveitar toda a riqueza cultural de uma cidade, mas é o bastante para atiçar a curiosidade sobre ela. E também é assim com Córdoba e os diferentes povos e culturas que a habitaram. Só para dar um gostinho de quero ver, há registros dessas passagens desde mais de 3 mil anos atrás e um museu arqueológico interessantíssimo para ser visitado.

A geografia foi fundamental em sua história, tanto nas épocas de glórias quanto na sua decadência.
Córdoba está no vale de um dos mais importantes rios espanhóis, o Guadalquivir, no sudoeste da Espanha, na Andaluzia. Conquistada pelos romanos em 152 a.C, foi transformada num importante centro cultural. Depois, foi ocupada pelos vândalos, visigodos, bizantinos e muçulmanos. E por falar nisso, vou contar uma historinha interessante.
Uma vez meu pirata estava visitando um país centro-americano, durante as comemorações dos 500 anos do descobrimento da América, quando foi abordado por uma mulher, esposa de um político importante. A criatura aproximou-se e com cara de desprezo disse-lhe que odiava os espanhóis porque eles haviam invadido e saqueado seu país. Ele respondeu com tranquilidade e aquele sorriso que lhe caracteriza: ” A senhora teve sorte. Seu país só foi invadido por um povo. O meu foi invadido e saqueado por tantos, que já perdemos a conta.Se fôssemos odiar a todos…”
A mulher emudeceu e saiu de mansinho. Só conseguiu demonstrar sua ignorância sobre a história europeia daqueles tempos, além da falta de educação e diplomacia, naturalmente.
Bom, voltando a Córdoba…
Durante a ocupação muçulmana na Espanha, a partir do século VIII, a cidade se converteu em capital de Al-Andaluz, a mais importante do ocidente, tanto pela sua população como pelo seu elevado nível cultural. E muitas coisas aconteceram em torno e a partir dela, até que no século XIII o rei Fernando III, o Santo reconquistou-a para seu católico reinado espanhol.
Uma pena para a riqueza cultural da cidade, é preciso reconhecer. Depois de reconquistada, Córdoba foi convertida em reduto militar por sua importância estratégica e sua população civil, formada por árabes, judeus e cristãos foi quase que totalmente evacuada, o que levou a cidade à decadência pelos séculos seguintes.
Seus monumentos e palácios espetaculares, como a Medina Azhara, construídos durante os séculos de ocupação muçulmana, foram ocupados com objetivos militares e depois destruídos e saqueados, até serem reduzidos às ruínas que são atualmente…
O antigo Alcazar dos reis foi transformado em quartel e depois em prisão. Afortunadamente, hoje é um bonito museu.
E, para culminar a desgraça, a cidade inteira foi saqueada pelos franceses em 1808. Só não levaram para a França o que a população conseguiu esconder de seus tesouros e obras de arte.
Bendición ( Júlio Romero de Torres)
Dizia Federico Garcia Lorca, o grande poeta espanhol, que Córdoba era uma cidade melancólica. Esta melancolia o pintor cordobes Júlio Romero de Torres registrou magistralmente nas fisionomias de suas musas, de tristes e molhados olhos negros.
Para mim não há nada melhor que a arte para ilustrar qualquer história…escolhi dois de seus quadros que eu mais gosto para o painel.
Adorei visitar o museu do artista. Uma visita imperdível para quem estiver na cidade com um pouco mais de tempo.
Mas Córdoba não é só seu passado histórico… ela também está renascendo das cinzas em modernas áreas e bem decorados espaços públicos. Está se transformando numa cidade mais completa, com ambientes adoráveis, bem cuidada, cheia de hotéis novos e bonitos, passeios arborizados, bares de copas bem transados, terrazas com sofás na calçada e luminárias árabes lindíssimas que podem transformar a noite num sonho romântico…
A música também ilustra lindamente um lugar. E na minha memória ficará para sempre a noite em que jovens trovadores de uma de suas universidades se reuniram numa calçada, diante da taverna em que eu estava e cantaram para mim. Arrepiei. Foi emocionante.
Pregadas em suas capas estavam as dezenas de fitas coloridas bordadas pelas amadas ou amigas e os brasões das universidades por onde já passaram a cantar suas tradicionais canções. Era uma Tuna, uma tradição em quase todas as universidades europeias. Eu adoro!
Desta última vez, semana passada, estive em Córdoba para assistir o casamento de um sobrinho. Seus irmãos e amigos não perderam a oportunidade de presentear os noivos com uma apresentação. O “muchacho das panderetas” é um dos meus novos sobrinhos e irmão do noivo. Fiquei alucinada com a dança dele.
Voltando ao passado…

Para quem gosta de mergulhos na história, a cidade conserva ainda restos abundantes da ocupação romana e muito mais da muçulmana, embora jamais tenha recuperado a pujante vida cultural dos séculos passados. De vez em quando a gente se depara com alguma ruína romana que emerge numa escavação qualquer de alguma obra bem no centro da cidade. Não pensem que é coisa pequena, não… são colunas impressionantes!
Mas minha predileção é justamente a Juderia. Adoro o bairro judeu. Adoro as casas e as ruas estreitas. Adoro visitar as lojinhas passeando com tempo e paciência, aproveitando o tempo, sem correr para nada.
Por entre os muros altos e varandas coloridas pelas flores, a gente vai viajando no tempo.
Descobri que as ruas são assim estreitas como uma forma de se protegerem dos excessos de frio ou calor. Durante o inverno, os muros guardam um pouco do calor do sol e evitam as correntes de ar frio. E durante o verão criam sombras protetoras.
As casas em estilo árabe mesclam-se com a Juderia e a gente não sabe mais onde acaba um bairro e começa o outro. São quase todas brancas, com grandes ou pequenos pátios centrais, onde há uma profusão de plantas e vasos coloridos e, invariavelmente, um poço. Funcionando, lindo… Com a ajuda deles os moradores mantêm suas casas decoradas, além de frescas e alegres durante todo o ano.
É comum encontrar casas de chá decoradas com peças árabes, mesinhas baixas cercadas por banquetas de couro trabalhado onde descansam bandejas de metal com serviços de chá de fina delicadeza, com seus desenhos florais e cores diversas.
Nunca deixo passar a oportunidade de entrar e provar algumas das variedades dos chás e doces.
Tomar chá é um costume que permanece forte entre os cordobeses.
As “teterias” também funcionam para uma descansada breve depois de comer… é um lugar fantástico para escapar do sol e relaxar antes de voltar para a rua.

Os banhos públicos voltaram a funcionar e estão na moda atualmente. Existem casas de banho maravilhosas, onde se pode relaxar em piscinas térmicas com direito a massagens com óleos perfumados, em ambientes com cheiro a incensos exóticos ao som de uma doce canção do médio oriente e a visão de uma linda cordobesa bailando a dança do ventre. Ainda não foi desta vez que provei os banhos, mas será da próxima. Garanto!
Como eu não tinha tempo para estar pela rua e o calor era tanto, decidi não gastar as energias antes de ir ao casamento montada em uns saltos vermelhos que só de olhar já me assustavam. Fiquei na piscina do hotel, relaxando e descansando enquanto os jovens iam visitar a Mesquita. Este sim… é um passeio imperdível para quem não conhece. O monumento mais importante e encantador de Córdoba.
Iniciada por Abd al-Rahman I em 780 d.C. a Mesquita foi o primeiro monumento de todo o ocidente islâmico.

Sua construção inicial foi ficando pequena para a quantidade de fiéis e, durante os séculos seguintes, foi ampliada pelo menos quatro vezes. Em cada uma delas, principalmente na terceira, uma decoração mais esmerada, mais espetacular. Assim, a Mesquita conta atualmente com uma variedade de estilos e materiais, de acordo com o tempo em que foi construída ou reformada.

No retângulo original, as colunas são romanas e visigodas, aproveitadas de antigas construções anteriores ao poderio do Califa.
Nas ampliações posteriores podemos apreciar uma seqüencia alternada de colunas de mármore azul e rosa, que levam ao Mihrab , e que fazem a gente respirar fundo várias vezes, para aguentar a emoção que cresce dentro do coração.
O Mihrab é o oratório e todo o caminho até ele é de uma beleza espetacular. (Não deixem de ver outra vez o painel de fotos depois de ler ese texto.)
As mulheres não podiam rezar nesse espaço. Aliás, elas nem podiam entrar na Mesquita propriamente dita. Só podiam rezar numa parte construída no Pátio de Los Naranjos , na entrada do templo, e reservada para elas. O grande centro do retângulo era destinado apenas às orações masculinas.
Hum… as religiões são engraçadas. Quase todos os preconceitos de gênero vem delas.
Gostei de ficar um tempo no pátio. As laranjas são amargas e não servem para comer mas emprestam ao ambiente um colorido fantástico! E um perfume!
Os árabes não cultuam imagens e assim sua arte religiosa consiste de motivos florais ou de arabescos, textos sagrados, etc. Sempre fico embasbacada com a perícia dos artesãos mozárabes nas portas desenhadas, nos tetos de madeira e gesso trabalhados, nos pórticos do Mihrab e do tesouro.
A luz que entra suavemente pelas janelas no alto e dão um toque de ouro e sombras aos recantos da mesquita. Um coisa impossível de descrever.
E aí… a Espanha cristã, quando reconquistou seus territórios, resolveu construir uma Catedral dentro da Mesquita. Derrubar parte do templo islâmico mais antigo e singular do ocidente, para elevar um templo cristão.
Pelo amor de Deus! O tal sujeito que teve essa ” brilhante” ideia não podia aguentar tanta beleza noutra crença?
Não, parece que não. Além de acreditarem ser aquele solo sagrado, não podiam deixar o símbolo de uma religião que não fosse a cristã dominando a paisagem da cidade.
A Catedral foi construída dentro da Mesquita.
Sorte que uma alma sensível àquela arte aproveitasse parte do templo islâmico como decoração do templo cristão.
Eu soube que aconteceu até uma manifestação pública do conselho de Córdoba , na época, pregando nas ruas e praças da cidade a pena de morte para os pedreiros, carpinteiros e peões que aceitassem o contrato para trabalharem na demolição da Mesquita.
Mas, deixando as crenças de lado, a arte que podemos contemplar no templo misto é o que vale, seja qual for a religião do visitante.

A Catedral é espetacular.

As capelas, o coro, o altar maior… tudo construído com esmero para superar a beleza da Mesquita… embora, na minha opinião, o que restou do templo muçulmano é o que empresta à Catedral de Córdoba seu singular encanto.

Ninguém sai incólume a tanta formosura.

Ps: Algumas fotos foram retiradas da Internet com a intenção de ilustrar o texto.Se alguém se sentir malcom isso, avise-me.

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