Arquivo do mês: outubro 2016

Pueblos da Espanha.

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Uma das delícias de viver na Espanha é viajar pelos pequenos pueblos espalhados pelas suas montanhas ou banhados pelas águas dos seus dois mares. A costa Este, pelo Mediterrâneo. As costas Oeste e Norte, pelo Atlântico.
Sinto-me uma privilegiada por poder desfrutar, sem gastar muito dinheiro, dessas pequenas pérolas que a gente encontra por qualquer estrada que escolha.
Pois é…foi assim que conheci um lugar chamado Mojácar, quase por acaso.
Fomos visitar uma prima na província de Almeria, Andaluzia, e ela nos sugeriu passar o dia em Mojácar, já que no final do verão não há mais tanta gente apinhada nos bares e hotéis nem nas lojas e restaurantes. Muito mais gostoso para passear, conhecer os recantos bucólicos e passar bem sem a agonia causada pelo excessivo calor e demasiada gente. O outro lado da moeda é que as lojas fecham para la siesta. E essa é uma hora larga. Fecham as 13:30hs e só abrem as 17:00hs.
Bom, isso é normal nos pueblos, pois as pessoas comem em casa e o sol não ajuda o cliente a se aventurar pelas ruas… exceto os vermelhos e asssados turistas que se deleitam com o sol inclemente a qualquer hora do dia.
Para quem gosta de feiras de antiguidades, é só ir aos domingos e se deleitar com uma enorme quantidade de bugigangas, roupas, objetos de corda, cestos…
Eu adoro.
mojacar-puebloO centro histórico é lindo, repleto de ruazinhas estreitas e escarpadas, cheias de escadinhas e recantos encantadores.  Há também marcas e lendas de batalhas entre os vários povos que já  dominaram a região. E naturalmente, um castelo. Um Pueblo com castelo é muito mais interessante.
Foi povoada por Fenícios, Cartagineses, Romanos, Suevos, Vândalos, Alanos, Visigodos, Árabes.  Tem de tudo nos museus desta região e muita , muita história! Mas  não se engane, quando a gente vai descendo a costa em direção às praias, vê a modernidade invadindo tudo. Condomínios e hotéis caros, bares, restaurantes, chiringuitos e as maravilhosas areias brancas cheias de turistas tardios, justo aquela gente que eu falei acima, os bronzeados povos do norte da Europa, com seus cabelos vermelhos ou quase brancos.
Tem gente que reclama do excesso de turistas. A mim não incomodam. Se eu fosse eles estaria justamente aqui, tomando uma cerveja e muito sol. Na verdade, eu já não gosto de levar sol, sempre uso chapéu  até quando entro na água. Mas os coitados, passam quase o ano inteiro no frio e na sombra e quando chega o verão ficam alucinados com a luz e o céu da Espanha, seus preços (muito mais baratos do que em seus países), sua gente mais aberta, mais amigável e risonha, suas ruas repletas de  tesouros interessantes a descobrir, artesanatos ou joias em prata e ouro, cerâmicas coloridas ou espadas e outros objetos medievais , obras de arte e música flamenca.
É bom que venham, geram muitos empregos e deixam muito dinheiro.
A Espanha é fascinante para todos, inclusive para os espanhóis. É fácil encontrar pelos pueblos uma quantidade muito importante de turistas internos.
Mojácar tem marcas e cicatrizes que vem desde a pre-história. Foram encontrados muitos objetos que testificam a presença de Neandertais nas cavernas da região. Há muitas por toda parte que provam essa teoria, com inúmeros objetos descobertos de todas as “idades”. Mas eu, neste blog, não pretendo me meter a contar sua história detalhada. Gosto mais de mostrar seu encanto, seus cheiros, suas comidas… uma ou outra lenda, que dá gosto e cor ao lugar.
Uma lenda de Mojácar interessante é que eles dizem que Walt Disney é filho ilegítimo de uma lavadeira e um médico desta cidade lá pelo ano 1901. Que ela foi para os EUA e deu o filho em adoção. Eles sabem até o nome da criatura: José Guirao Zamora. Isso quer dizer que Walt se chamava Pepe. Que tal?
Existem umas histórias que eu gosto muito sobre um prefeito dos anos sessenta, que encontrando a cidade destroçada e sem dinheiro, começou a oferecer às pessoas casas semi destruídas, negócios quase sem impostos, etc. Isso atraiu gente interessada em viver perto do mar e longe das grandes cidades. Pintores, poetas, escritores, intelectuais e negociantes com vontade de investir pouco e ter um lugar com charme e história para viver e criar seus filhos.
A cidade começou a renascer das cinzas e a atrair o turismo, que trouxe mais hotéis e mais negócios. Desde então as casas que se penduram na colina onde se ancla a cidade velha estão todas pintadinhas de branco, como quase todos os pueblos bonitos de Andaluzia e muito bem recuperadas. Desde a estrada já se vê a beleza que ela encerra… (claro, se você for condescendente com alguns feios hotéis que a toda custa querem estragar a paisagem).
indaloUma outra coisa interessante do lugar é seu símbolo. Uma figura rupestre, encontrada em uma das cavernas próximas ao lugar, chamada Índalo. É representada por uma figura humana com os braços e pernas abertos que sustenta um arco sobre sua cabeça. As figuras datam de 8500–3500 a. C. e foram declaradas “Patrimonio da Humanidade” pela UNESCO em 1998. Ainda não existe uma clareza sobre seu significado mas se estuda a criatura como um ser em comunhão com o céu e a terra. O círculo sendo considerado um arco íris, provocado pela chuva e o sol. Assim, o Índalo é considerado um amuleto que protege as casas das tempestades e as pessoas do mal olhado.
Essa figura foi encontrada em vários outras escavações arqueológicas pelo mundo afora, de forma que parece ser algum semideus, dizem. Poderia também ser apenas um homem com um arco, mas sem flecha de que valeria?
Hoje ele já é o simbolo de toda Almeria. É bem bonitinho. Os turistas gostam. Neste  link se pode ver umas fotos muito boas.
A outra coisa que adorei do lugar foi a comida. Estivemos em um restaurante familiar, bem na descida da rua que vai dar na praça principal. Comemos de maravilha. Camarão ao Curry, Cuscuz Marroquino, Paella… tudo fantástico. Não me lembro do nome do restaurante, mas vou tentar encontrar. Vale a pena.
Como quase todos os negócios turísticos, eles fecham no inverno e abrem de Maio a Outubro. Trabalham muitíssimo no verão… e podem se dar o luxo de descansar no inverno.
Quando você for visitar Mojácar, não desista da ideia ao vê-la pendurada na colina. Na primeira ladeira tem um elevador que deixa a gente bem no alto… e a vista vale a pena. O vento, a luz, os ruídos do passado espalhados pelo vale… fique um pouco ali, quieto, escutando e imaginando os povos que o habitaram…
Vá por mim.
Bem capaz de você querer ficar por lá mais tempo.
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