Haruki Murakami… uma descoberta.

Já que eu quero voltar…vou aproveitar a disposição.
Então… eu gosto de escrever sobre o que eu estou lendo. Me ajuda a refletir sobre o livro, aprendo mais sobre o autor, recordo melhor os detalhes da história e por cima mantenho um registro da experiência. Além disso adoro compartilhar minhas impressões, seja sobre uma exposição, uma viagem, um filme ou um livro.
Agora estou lendo Murakami. Estou adorando! Ele é bárbaro!
O primeiro livro dele que li, no final do ano passado, foi Kafka en la Orilla. No Brasil se chama Kafka à Beira-Mar.
A novela é incrível! Tem um ritmo tão extraordinário que muitas vezes a gente simplesmente não pode deixá-la, fechar o livro e ir fazer outra coisa. E não porque a ação seja frenética. Pelo contrário, ele é capaz de descrever as mesmas ações simples e rotineiras inúmeras vezes, tantas quanto aconteçam. Isso funciona mais ou menos como signos. Provoca na gente a vontade de querer guardar aquele detalhe para depois, porque a pergunta “para que isso vai servir mais adiante?” não nos deixa em paz. Acabei grifando mil e uma passagens.
Fazia muito tempo que eu não grudava em um livro dessa maneira.
Murakami escreve há muitos anos, mas eu não o conhecia até o ano passado quando li uma crônica sobre ele no El Cultural, um semanário do jornal El Mundo. Guardei seu nome numa caderneta… e depois esqueci. Até que, numa daquelas tardes deliciosas de garimpagem na minha livraria preferida de Madrid, La Casa del Livro, o encontrei. Hum! A memória acendeu na hora! Comprei imediatamente e comecei a ler sem buscar nenhuma outra informação, nem sobre a novela nem sobre o autor.
Foi uma decisão acertadíssima! Ainda bem que eu mergulhei na sua criatividade sem borrá-la com as descrições secas e sem sabor que depois encontrei pela internet.
Mas, voltando a Murakami, fui conhecê-lo melhor depois que me apaixonei pelo livro. Li algumas entrevistas dele e gostei muito. Ele é uma criatura um tanto especial. Diz que aprendeu muito de seus escritores favoritos pois é tradutor de suas obras para o Japonês, mas se inspirou principalmente em Manuel Puig e García Marques para soltar a imaginação. E faz isso de uma maneira absolutamente própria e muito original. Fazer chover peixes é um bom exemplo.
Li Puig há muito tempo atrás ( Púbis Angelical, Boquinhas Pintadas, O Beijo da Mulher Aranha ) e García Marques leio constantemente. Posso entender que tenha se inspirado neles ( pensei antes nas Mil e Uma Noites, tanto que esse foi um dos meus pedidos de presente de natal ) mas o que esse escritor japonês fez comigo foi absolutamente novo.
Eu falava em voz alta enquanto lia! Ele me intrigava até quando descrevia a forma como os personagens lavavam os dentes e as mãos!

Assim. Eu ia entrando na história por um caminho, conhecendo um pouco os sentimentos de Kafka Tamura, um jovem que decidiu sair de casa no dia de seu aniversário de 15 anos para fugir de uma suposta profecia paterna: cumprir o destino de Édipo.
Eu seguia buscando compreender suas intenções, atenta a alguns traços de seu comportamento… e de repente um acontecimento inusitado, surpreendente, um “como assim, o que é isso?” desviou minha atenção e antes de poder encontrar um novo caminho que explicasse o que aquele estranho fato estava fazendo ali, surgiu um personagem intrigante, surrealista e irresistivelmente atraente, Nakata, um impressionante homenzinho de 60 anos que falava com os gatos.
Pronto. Como assim?! O que tem a ver um caso com o outro? Fiquei amarrada nos dois, curiosa para saber onde se encontrariam, como, por que? Se é que se encontrariam! Se é que… quanto mais lia mais dúvidas eu tinha.
O engraçado foi que ao mesmo tempo em que eu queria saber como o autor ia esclarecer toda a trama, não tinha qualquer pressa em descobri-la nem tentava resolver a possível ou impossível relação entre eles.
Tá bom. Admito que tentei uma ou outra vez resolver o mistério, pois era inevitável. Mas quando não consegui apenas me deixei levar pelo delicioso prazer de ler Murakami. Deixá-lo criar.

O texto é bom, bem escrito. Ele tem uma linguagem agradável, atual, conversada, gostosa. Faz a gente pensar com ele, seguir seus passos. ( A tradução espanhola é excelente e isso é muito importante! )Também procurei ouvir as musicas que ele citava ao longo da história, curtir as deliciosas conversas entre Oshima e Tamura ou entre Nakata e Hoshino, suas citações literárias, como tratava temas fortes como os tabus e preconceitos, morte e vida, realidade e fantasia. E aproveitei com prazer a experiência de ler uma novela fantástica, diferente, extremamente interessante e absolutamente absorvente.
E mais, comprei três exemplares para presentear alguns amigos. Adoro poder fazer isso!
Agora estou lendo Tokio Blues – Norwegian Wood.
Murakami outra vez.
Mas acho melhor escrever sobre este em outro post.
Ps: Sugiro não leiam a história antes de ler o livro. Fazer isso é perder completamente a emoção de mergulhar na criação do autor.
Ontem acabei lendo um comentário em Português apresentando Kafka à Beira Mar aos compradores.
Achei HORRÍVEL!

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17 opiniões sobre “Haruki Murakami… uma descoberta.

  1. Recordando que hoje 18 de Abril tem a Blogagem Coletiva “O que voce faz para acabar com o analfabetismo no Brasil?”
    Eu também estou nesta.
    Abraços

  2. Cacau Neves

    Querida,
    Quando você me falou de Kafka procurei aqui no Brasil. Ainda não editaram, a única opção é comprar a edição portuguesa….mas como vc mesmo já havia me dito e aqui repete, a qualidade da tradução é muito importante~.
    Então continuo no aguardo.
    Estou adorando a sua volta!
    Muitos beijos e saudades

  3. Voce tá tom linda nessa foto!!!!

  4. Dá vontade de ler… Vou correndo ver se acho por aqui. Eu estou lendo “O espirito de Madame Chen”Q de Amy Tan e estou gostando.
    Bom retorno! 😉
    bjs

  5. Vou comprar um caderno azul.

  6. nora borges

    Queridos(as)
    Estou em TARIFA… UHHHHH!
    Caminhando na beira mar, pensando no que quero fazer nos próximos 3 anos. Também estou escrevendo posts que espero poder publicar aqui desde um Cyber bem no meio da Calçada.
    Beijos!
    Dani, o caderno azul é fundamental. Pergunta a Cláudia. Vou te mandar o msn dela.

  7. Nora,
    Tá boa? : )
    Adorei a visita.
    Meu link tá dando problema aí porque vc o copiou como se fosse um blog do Verbeat, acho. : )
    Vejo que vc está a todo vapor. Eu agradeço a dica do Murakami.
    Beijo grande,

  8. Cacau Neves

    Quero mais,
    Quero mais,
    Menina quero mais!!!!!
    Bjs

  9. Cacau Neves

    Enquanto estás em buscas dos levantes de Tarifa, fico aqui no aguardo (ancioso) de novos post.
    Te amos….e pra Xuxu
    Bjs

  10. Me sinto privilegiada em ler suas impressões. Bom feriadão!

  11. Definitivamente eu não sei fazer isso com o flickr…tuas fotos são lindas. No meu flickr tenho um álbum de Madrid.

  12. Gentem, vou ler o livro ja, ja! Como é que passei minha vida sem conhecer este autor? Que falha de carater horrivel! Boa semana, Ethel

  13. Querida, queridíssima Nora.
    Que maravilha essa dica. Eu não conheço, vou procurar.
    E que voltes sim, pois todos, todos nós precisamos dessa forte e doce presença que você imprime aos escritos e na partilha de suas descobertas.
    Um beijo
    Meg

  14. Eu conheço o Murakami!!! Uau, que legal vê-lo aqui! Faz tempo que eu adoro esse escritor… Comecei com “Minha querida Sputnik”, em 2003. Depois passei pra “Norwegian Wood”, “Dance, dance, dance” e “Caçando carneiros”. Eu ainda não li “Kafka a beira-mar”. Mas me deu o maior comichão a leitura do seu post… É que estou com 3 livros na cabeceira… Sou leitora compulsiva!
    Adorei que você o conheça e indique! Uhu!
    Grande beijo!

  15. Eu conheço o Murakami!!! Uau, que legal vê-lo aqui! Faz tempo que eu adoro esse escritor… Comecei com “Minha querida Sputnik”, em 2003. Depois passei pra “Norwegian Wood”, “Dance, dance, dance” e “Caçando carneiros”. Eu ainda não li “Kafka a beira-mar”. Mas me deu o maior comichão a leitura do seu post… É que estou com 3 livros na cabeceira… Sou leitora compulsiva!
    Adorei que você o conheça e indique! Uhu!
    Grande beijo!

  16. Eu conheço o Murakami!!! Uau, que legal vê-lo aqui! Faz tempo que eu adoro esse escritor… Comecei com “Minha querida Sputnik”, em 2003. Depois passei pra “Norwegian Wood”, “Dance, dance, dance” e “Caçando carneiros”. Eu ainda não li “Kafka a beira-mar”. Mas me deu o maior comichão a leitura do seu post… É que estou com 3 livros na cabeceira… Sou leitora compulsiva!
    Adorei que você o conheça e indique! Uhu!
    Grande beijo!

  17. Achei o seu blog porque queria ver opiniões sobre o filme Língua de Mariposa e gostei da dica para mais um livro de Haruki Murakami.
    Li apenas o Norwegian (que adorei).

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