Desligue o Ladrão

Já faz muito tempo que me livrei desse ladrão que entra todo dia nas casas das pessoas. Não minha não.  Televisão só de vez em quando. E isso não é de agora.  É desde a época em que descobri que ler, estudar, escrever, sair, dançar, estar com amigos, escutar música, era muito melhor.
Nunca fui prisioneira14448761_10154422597726893_8396023023838722388_n de novelas. A única série que eu não quis perder foi Grande Sertão, Veredas. Na Globo, quem diria!
Em minha casa, eu nunca ligo a TV se estou bem. Quando meu marido me vê com a TV ligada, já sabe que estou pra lá de mal do juízo.
Vejo documentários de viagens, canal de cozinha, história, filmes românticos, algo de esportes… e já.
Não acredito mais em telediário. Todas as notícias que me interessam  procuro “segundas e terceiras opiniões”. As portadas dos jornais escondem mais do que mostram a realidade.
Cuidado com sua cabeça. Cuidado com suas idéias.
Desligue esta merda que só te transforma numa lata cheia de conceitos que não são seus. Ela o esvazia de você mesmo e lhe enche de malvadeza, violência, mentiras, mediocridade, ódio, desrespeito pelas dores e vidas alheias. Ela rouba sua música, seus estudos, seus amigos. Ela rouba seu pensar.

 

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Cheiro de Saudade

edited_1469269783016Antes de ontem sonhei que estava na casa do Poço da Panela. Abria um armário e descobria as roupas da minha mãe. Me surpreendi com minha emoção. Abracei as roupas e senti seu cheiro. Que delícia! Um choro forte e reparador da saudade de tantos anos sem ela, saiu da garganta sem controle. Um choro que eu gostei de chorar.
De manhã contei o sonho a Pepe com alegria triste. Foi como se ela tivesse me dado um presente. Foi tão real, tão cheiro de verdade dela!
Agora sei porque. Hoje é seu aniversário, e quem ganhou presente fui eu. Saudadona imensona mãe.

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A Parada é na Central do Textão

Pois é. Através da Beth Salgueiro vim parar aqui, na Central do Textão.

Na verdade, eu adoro textão.

cartas

Desde as épocas mais remotas de minha vida, eu gostava de escrever. Tinha cadernos “secretos”, escrevia cartas enormes para primas e amigas, escrevia resenhas sobre os filmes que via, sobre as músicas que gostava. Colava imagens  recortadas das revistas nas páginas destes cadernos e me inspirava a escrever ou buscar uma poesia que “combinasse” com ela.

Foi uma maravilha descobrir o mundo dos blogs, em 2003, enquanto vivia em Santorcaz, um pequeníssimo povoado pendurado em um monte perto de Madrid. Dali eu escrevia para o mundo. Escrevi durante sete anos.

O que começou como uma forma de mostrar à familia e amigos a nova experiência que eu vivia se transformou numa forma muito mais ampla de comunicação, onde pessoas desconhecidas, espalhadas pelos continentes, entravam na página e deixavam comentários maravilhosos. Comecei a construir uma rede de amigos blogueiros e trocar impressões com eles. Aliás, Impressões foi o primeiro nome do blog. Depois, com o tempo, ele foi se transformando no Cicatrizes da Mirada porque esse título era uma forma poética de dizer o que eu estava aprendendo sobre a cultura espanhola, sua arquitetura, história, gastronomia. Foi bárbaro!

Muita água rolou. O blog desapareceu duas ou três vezes. E graças a um amigo blogueiro do Brasil, que tinha muitos dos meus posts copiados em seu computador, pude recupera-los. Ele me mandou por correio em um CD. Uma maravilha!  E hoje o Cicatrizes da Mirada é uma categoria do Língua de Mariposa.

Este segundo blog nasceu com a minha necessidade de conversar com minhas saudades, minhas memórias guardadas da infância e juventude.  Mais intimista e pessoal, ele foi ganhando espaço.  O Língua tem de tudo. Histórias sobre mim e minha gente, receitas, filmes, videos, poesias. Ele é como meu caderno secreto. Inclusive, em seu início ele era negro com letras brancas, como se eu realmente escrevesse no escuro do meu quarto.

Este tambem passou por muitas vicissitudes, mudou de portal, de cores, perdeu fotos e comentários,  mas sobreviveu quase intacto em seus textos.

Tentei muitas vezes recomeça-lo sem êxito. Até que me apareceu a Central do Textão. Um lugar que acolhe muitos daqueles blogueiros da minha época. Um lugar para passear entre amigos. É como passear numa praça de cidadezinha, onde a gente reconhece antigos colegas do instituto, quando quase todos estavamos aprendendo essa nova forma de comunicação e registro dos proprios pensamentos.

Os Textãos ainda tem seu charme. Seu apelo.

Espero que desta vez eu realmente me sente aqui, no quarto azul das borboletas,  com vontade de conversar.

Muito obrigada por ter sido aceita.

 

 

 

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E por falar em Depressão…

” Quando a alegria se vai”.

Faz tempo que eu li esse post. Me enamorei das ilustrações.551

Todo mundo já sabe que a minha depressão, que durou 2 anos, mudou a minha vida para sempre. Já vi que isso aconteceu com muita gente. Às vezes, para melhor. Outras, nem tanto.

Vou guardar aqui essa jóia. Clique  neste link abaixo e se maravilhe com as imagens, com os sentimentos. É simplesmente espetacular.

Não perca. Você pode , um dia, precisar ajudar a si mesmo ou a outro.

Clique neste link abaixo e leia. Prometo que vai gostar.

http://lm.facebook.com/l.php?u=http%3A%2F%2Fwww.gluckproject.com.br%2Fquando-a-alegria-se-vai%2F%23.UsqO7GRDt2R&h=YAQGiJffB&enc=AZM3_bAiE13tnGRU_fa7vpA3CslQCHPXGVKGdESanuQvRc73_7xyXZSwKozzRwktaRQ&s=1

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Casa Arrumada.

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Eu conhecia esse texto mas já tinha esquecido. Adorei lembrar lá no Feissy porque minha casa tem uma vida linda. Troco coisas de lugar, quadros de parede, cheiros, mantas, tapetes…

Gosto de usar tudo o que tenho. Não guardo nada para um dia especial. Aqui todo dia é dia de festa, basta a gente decretar. Também decretamos se tem cama feita ou roupa passada. Café da manhã com Bach ou com Arvo Part. Tinto de verano em pleno inverno… janelas abertas e muita luz. A casa gosta dessa informalidade e respira bem.

 

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Meu pai…

Ele e eu. Um milhão de anos atrás.

Qual seria a música?
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A Princesa…

IMG_20131112_145946~3Hoje é 23. Dia do aniversário da princesa. Aquela do Poço da Panela.
Pepe não chegou a conhecê-la, nunca a viu… mas a reconhece em mim. De vez em quando ele diz, ” vai Moêma, joga isso fora” . Eu rio como ela, jogando a cabeça para trás. Eu molho o dedo na boca e prego nas miguitas de pão da mesa, depois esfrego um dedo no outro sobre o prato. E descasco todas as garrafas que tem um rótulo de papel, e faço rolinhos com os pedaços. Isso é ela em mim. E guardo roupa para remodelar um dia. Que será nunca. E bolsas de papel de todas as lojas. Também guardo as fitas coloridas dos embrulhos de presentes. Graças a deusinho já me livro dos papéis, porque Pepe amassa bem muito antes que eu tente dobrar direitinho. Ele diz, ” Moêma! ” e eu rio.
Eu morro de saudades da minha mãe.
Ainda bem que eu a vejo muitas vezes, quando olho no espelho.
Ele sabe quando sou ela porque eu falo dela todos os dias. Conto histórias, conto a vida dela antes de mim, conto mil e uma vezes repetidas. E ele gosta.
Ele gosta dela. E eu sei que ela gostaria muitíssimo dele.
Pois hoje é seu aniversário e eu vou comer bolo. Juro.

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Santo Antonio

092.0378Pois é…. Santo Antônio é um santo simpático, né? Eu gosto dele!
Em Pernambuco as “simpatias” para conversar com ele são muitas, mas eu só me lembro de uma, porque essa foi divertida e assustadora.
Eu tinha um noivo de aliança e tudo, e queria saber se ia casar com ele. Aliás, eu tinha certeza que ia casar com ele, só queria que o Santo confirmasse.
Então… Na noite do dia 12 de junho, eu e uma amiga de infância, amiga daquelas que a gente conta tuuuuudo, saímos do quarto à meia noite, cada uma com uma faca virgem na mão, pelo quintal da casa do Poço. Imaginem.
Só faltava a música de terror!
Pois… Segundo as simpatias pernambucanas tínhamos que meter as facas no tronco de uma bananeira e deixar toda a noite. Uma reza pro Santo e pronto!
Oráculo de primeira !
No dia seguinte, a minha faca traria impressa em sua folha metálica a letra inicial do nome do sujeito que ia casar comigo. Fácil e seguro!
Pois sim… Depois do café corremos para o quintal. A dela eu nem lembro o que saiu. Fiquei horrorizada assim que tirei a minha. Lá estava um J perfeitamente bem desenhado. Como assim? Cooooomo assim?
Meu noivo tinha DOIS nomes . Nenhum começado por Jota!
Comoo assiim????
Pois guardamos silêncio , as duas. Nem ela casaria com seu namorado, nem eu. Mas a gente não queria acreditar . Ponto.
Se ficasemos em silêncio podia ser que enganássemos o Santo.
…….
Ainda fiquei com esse noivo anos e anos… Mas não casei com ele.
Casei duas vezes na vida. As duas vezes o nome do noivo começava por Jota.
😱😱😱😱
E eu só lembrei da “simpatia” um dia desses, quando falei sobre a amiga querida.

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Assim te amo.

Eu am10501666_10153101684756893_1145851939271694644_no-te sem saber como, ou quando, ou a partir de onde. Eu simplesmente amo-te, sem problemas ou orgulho: eu amo-te desta maneira porque não conheço qualquer outra forma de amar sem ser esta, onde não existe eu ou tu, tão intimamente que a tua mão sobre o meu peito é a minha mão, tão intimamente que quando adormeço os teus olhos fecham-se.

Pablo Neruda, in “Cem Sonetos de Amor”

Feliz Aniversário, meu Capitão.

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Presentes Imperdíveis

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O Metropolitan Museum of Art, de Nova York, um dos maiores e mais importantes museus do mundo, disponibilizou parte de suas publicações para download gratuito. São 474 livros. As obras disponibilizadas foram publicadas entre 1964 e 2013 e compreendem todo o período da história da arte — ressaltando as características artísticas distintivas e influentes, classificando as diferentes formas de cultura e estabelecendo a sua periodização. Acesse:http://bit.ly/1dOCPm2

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Falta.

dedosQuando ele se vai por uns dias eu sento em sua poltrona, tomo o café em seu lugar da mesa, desperto em seu lado da cama…
Hoje eu pensei , será para não sentir o vazio que fica? Ou talvez porque, quando ele não está, eu também falto.

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Duas cidades com almas distintas.

Las_Ramblas-BarcelonaBarcelona não foi feita para días de chuva. O céu sempre azul e a brisa quase sempre fresca da Primavera mal acostuma a gente. Barcelona quer sol e mar. Quer as Ramblas cheias de gente colorida, pintores e mímicos, de flores e terraços cobertos de lona, de meses cheias de sangría e cervejas.

Aquí na Espanha a melhor cidade para a chuva é Santiago de Compostela. Lembro que minha primeira vez diante da belíssima catedral de Santiago foi com um guarda chuva negro numa mão e o coração na outra.
Esperamos que a meteorologia avisasse da chuva para poder ir.
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Depois de andar pelas ruas estreitas e sair no pátio diante da igreja, entendi. O cheiro da cidade é de musgo, os muros de pedra parecem chorar de saudades do passado. Aliás, Santiago de Compostela é o passado cristalizado no presente. As árvores bailam ao som da música antiga e do vento… e o peregrinos se transportam para um mundo inimaginável de emoção. Talvez pelo cansaço das largas caminhadas misturado com esse desejo de fé no divino que nos persegue, ali todos parecem gente do bem, gente que ama o próximo e segue as normas cristãs…
Impossível não se deixar levar pela aura de espiritualidade que paira sobre a cidade e mais quando chove.
Aquí não, aquí a chuva não chora, não chama o passado, não molha o coração.

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“Velho é uma conquista. Idoso é uma rendição”.

Essa frase é muito boa. Está neste texto aqui

http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/eliane-brum/noticia/2012/02/me-chamem-de-velha.html

Essa moça, a Eliane Brum, ainda não sabe o que é ficar velha… porque ainda está perto dos 50. Verá, quando passar dessa marca do meio século. A diferença é palpável! Digo eu. Mas eu gosto que ela escreva essas coisas porque prepara muita gente para uma realidade que chega, queiramos ou não. E eu quero que chegue. É preciso que a gente a receba sem complexos, com reconhecimento do privilégio, com agradecimento. Quem não fica velho é um zumbi da vida ou uma pessoa que não teve a sorte de sobreviver aos riscos e morre jovem. Que pena!
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Aqui os velhos tem uma palavra melhor que idoso, aqui velho é gente grande, é um “mayor” e asilo se chama “residencia”. Não parece que muda muita coisa, mas muda o conceito. E isso é importante!
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Eu concordo com tudo que Eliane disse. Nossa sociedade não cuida dos seus velhos. E menos ainda de suas velhas. Homens podem envelhecer mais tranquilamente do que mulheres.
Admiro os povos que valorizam seus velhos, lhes consideram sábios, falam com eles, pedem conselhos, escutam suas histórias. Eu adoro conversar com os velhos da família… descubro tantas coisas! E quanto mais velha eu fico, mais tenho coisas pra contar. Acho que estou ficando mais interessante. De cabeça.
( Tá! sem muita memória das pequenas coisas do dia, mas com uma memória histórica do importante da minha vida. Hahahahaha! Isso é bom?)
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Pois é… e tem o físico também. Claro que NÃO gosto das mudanças no meu corpo, mas o povo de fora de mim não o vê tão ruim como eu vejo. Diz que estou bonita. Ontem até escutei um “que bonita eres!” no meio da rua, vindo de um desconhecido que passava de bicicleta. Olhei em volta pra ver se havia “outra” por perto, mas não, era pra mim mesmo! Fiquei ancha!
Meu pirata diz sempre. Mas o povo dentro de mim não escuta. É uma luta!
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E lá vou eu para a Hidroginástica. Lutar sem “joder” os joelhos.

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Pirineus aragoneses.

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A fronteira entre a Espanha e a França é marcada por uma larga e famosa cadeia de montanhas: Os Pirineus.
E quase no meio destas montanhas está Jaca.Foi aí que passei alguns dias das minhas férias…
E não riam quando falo em férias, só porque estou desempregada. Uma coisa nada tem a ver com a outra!
Sair de casa sem hora para nada, sem saber onde, nem o que iria comer, andar perambulando pelas ruas, um mapa nas mãos em busca de coisas belas…e ainda mais, nas montanhas dos Pirineus Aragoneses… isso é igual a férias.
Estar em casa, lavando e passando roupas, lutando bravamente com as aranhas, limpando e guardando coisas… isso é igual a estar desempregada…
Entenderam?
Pois é…

Jaca, España

Jaca, España


Jaca fica em plena rota do Caminho de Santiago. É uma cidade cuja história remonta ao primeiro milênio ANTES de Cristo. Seus primeiros habitantes eram pastores e guerreiros. Dormiam no chão e em covas dentro das pedras, comiam carne de cabra, bebiam algo semelhante à cerveja e bailavam ao som de flautas. As escavações arqueológicas confirmam restos de cerâmica, espadas e instrumentos musicais correspondentes ao século II a.C.
Os romanos, no ano 194 a.C, invadiram e conquistaram Jaca com uma armadilha. Puseram um tradicional inimigo, o povo sussetano , diante de suas muralhas e quando os jacetanos saíram para lutar com eles, foram surpreendidos pelos exércitos romanos.
Muito tempo depois, já no século X, uma Jaca empobrecida, de muros caídos, foi anexada aos domínios de um conde aragonês e a partir daí voltou a desenvolver-se, chegando a ser capital do reino e residência dos Reis Aragoneses durante largas temporadas.

Jaca é uma cidade simples e tranquila… e sua maior riqueza é a sua localização. É ponto de partida de caminhos que levam a pequenos e belíssimos povoados, que ainda conservam suas ruas e casas no estilo medieval, suas igrejas românicas, suas tradições culturais e uma gastronomia fascinante.
As trilhas que levam à Garganta do Diabo são procuradas por toda gente, jovens e não tão jovens, para esportes de risco… que eu gosto de ver, mas não tenho a menor vontade de fazer…
Só de olhar de cima para o que as pessoas faziam entre as grandes frestas abertas nas montanhas, sentia um nó no umbigo. Acho que minha adrenalina é muito sensível para divertir-me com esses programas. Minha índole é mais contemplativa e meu lado Rambo um tanto atrofiado.

Pirineus

Pirineus


Preferi buscar um lugar na sombra, deitar numa pedra fria, numa das margens do rio, onde havia uma grande árvore quase deitada sobre as águas… e tranquilamente escutar o ruído magnífico que fazem enquanto escorrem com força entre pedras de todos os tamanhos.
Depois, comer uma ” bocata” de atum com tomate, e litros de água fresca, para suportar a volta sob o sol inclemente, nas pequenas e tortuosas trilhas que sobem e descem em torno das enormes ” peñas”( rochedos), sem misericórdia para a minha falta de preparo físico.
Rutas

Rutas


O caminho é belíssimo, pois costea toda a garganta, acompanhando os passos com barulho de água corrente e cheiro de mato…
Sofri um pouco… mas gostei muito.

Uma observação imprescindível à beleza de todos os lugares que visitei: a limpeza.
Nada de lixo pelas trilhas…NADA!
Águas limpíssimas, fontes de água potável por toda parte, onde os caminhantes podem encher suas garrafas sem medo.
Sinalizações precisas para aqueles que estão à caminho de Santiago de Compostela, ou apenas querendo conhecer suas paragens, seus miradores, sua flora e sua fauna.

Puente de la Reina

Puente de la Reina


Jaca fica justo na rota de Santiago.
E em Puente de la Reina, um povoado perto da cidade, muitos caminhantes se encontram, em direção a região de Navarra.

A via de peregrinação até Santiago de Compostela colocava em comunicação toda a Europa e converteu a arte românica na primeira “arte internacional”.
A Catedral de Jaca é considerada um dos monumentos mais importantes da arte românica espanhola. Espelha o intercâmbio dessas pessoas, produtos e idéias, em um momento histórico preciso em que os reinos cristãos espanhóis lutavam contra a invasão muçulmana e avançavam lentamente desde a montanha até o vale, deixando ao seu passo testemunhos de uma fé católica restabelecida.

Catedral

Catedral


O que mais me surpreendeu nela foi que o coro e o órgão estão por trás do altar maior, em vez de estar no centro da nave principal.

Nas dependências do claustro pude visitar o Museu Diocesano de Jaca , considerado pelos experts como a “capilla sixtina de la pintura românica”.
E é absolutamente impressionante.

Os murais de frescos de várias pequenas igrejas da região, assim como suas imagens datadas dos séculos XI, XII e XIII , foram transportados para o museu, a fim de protege-los dos saques e da espoliação do patrimônio espanhol.

Uma das salas compreende a História da Humanidade, desde a criação de Adão e Eva até o sacrifício de seu redentor.
É de tirar o fôlego…

Muitas de suas figuras estão deterioradas e as partes vazias não são “restauradas” para não parecerem uma maquiagem. O que permanece visível tem mais de mil anos e isso vale a preservação de seu estado atual.

Museu Diosesano de Jaca

Museu Diosesano de Jaca

Um dos tesouros de Jaca é “La Ciudadela.” Um castelo-fortaleza que protegia o Reino de Aragon do assédio francês, construído entre os séculos XVI e XVII .
Contava com hortas e água abundante, de forma que podia considerar-se autônomo por muito tempo caso precisasse defender a cidade e a região. Tem a forma de um pentágono, com fosso e tudo. Atualmente o fosso é habitado por cervos.

O paradoxo é que única vez que entrou numa batalha foi durante a Guerra da Independência, com os franceses dentro e os espanhóis fora de suas muralhas.

Essa é uma história interessante, que contarei só um pedacinho. Quando Napoleão queria invadir Portugal , pediu permissão para passar pela Espanha com suas tropas… e ficaram. Invadiram e tomaram a Espanha e nomearam José I, irmão do Imperador francês, como Rei da Espanha…
Graciosos, os franceses, não?

Ciudadela

Ciudadela


Bom… atualmente a Cidadela funciona como quartel e permite a visitação em parte de suas dependências….com hora marcada e guia específico, naturalmente.
À noite e iluminada ela é mais linda que de dia…

Há ainda uma outra antiga fortaleza, no alto de uma montanha, chamado Fuerte de Rapitán. Atualmente foi convertido de ponto defensivo em salão de luxo para visitantes ilustres, desde os Reis da Espanha a Presidentes. E guarda o Museu de Miniaturas Militares , uma das exposições de soldadinhos de chumbo mais importantes do mundo. Não pude vê-la, pois estava sendo transladada para a Cidadela.

Rapitan

Rapitan


Mas pude assistir desde o alto de suas muralhas a um concerto de jazz, com uma banda importada diretamente das ruas de New Orleans , tomando um whiskinho e cantando a todo pulmão… pois esta subida eu fiz de ônibus, já que os carros são proibidos de subir pela escarpada montanha e sua estreita e sinuosa estrada…

Enquanto cantava e respirava o ar puro das montanhas pensava nas voltas que a vida dá… e no inusitado que é para mim estar vivendo e podendo apreciar as belezas deste país.

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Cicatrizes da Mirada

Queridos, um dia desses eu descobri que um amigo virtual, que vive em Petrópolis, no Brasil, havia guardado num arquivo, meus primeiros posts, escritos em 2003. Ele teve a delicadeza de me enviar um CD para que eu não os perdesse para sempre. Não é lindo isso? Não é maravilhoso esse laço que nos envolve através da escrita?

Para meu desfrute pessoal, vou guardá-los aqui e talvez compartilhá-los com novos leitores.

O blog começou como Impressões depois passou a ser Cicatrizes da Mirada. Esse é meu primeiro post.

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Meus amigos.

Encontrei uma forma de repartir com vocês minhas impressões sobre a experiência maravilhosa que estou vivendo. Descobri o mundo dos blogs!

A Espanha surpreende em cada esquina…

Eu vou tentar escrever sobre as cidades, os museus, as histórias, a culinária… quer dizer, sobre o que me der vontade.
É mais ou menos como um e-mail coletivo!

Espero que gostem!

 
Quinta-feira, Março 27, 2003

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Vem menina, vem…

740_10151198882352607_1227432150_nEu prometo que vou cuidar de você.  Prometo nunca mais te dizer as coisas que eu te digo quando estou assim, confusa. Prometo não  te tratar mal. Prometo que não vou mais te deixar sozinha, nem fingir que tu não existes, só porque eu estou cada dia mais lenta, mais pesada,  mais insegura…

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Maldito Karma, de David Safier.

maldito karmaGanho de presente e logo na primeira página descubro que Kim vai morrer no final do dia. Merda! Eu bem que estou querendo coisinhas mais leves do que mortes anunciadas. Mas… quando Kim renasce formiga… a coisa começa a ficar gostosa…

Esta é uma estória para a gente contar na rede, às crianças. Sim. Sim. Elas vão amar o Maldito Karma, de David Safier.

Eu disfrutei como uma criança apesar de que o livro foi escrito para adultos. As crianças tendem a  crer na magia do pensamento, mas eu aproveitei  e me vi sendo formiga, porquinho-da-índia, vaca… que destinos! A gente fica realmente um pouco mais budista e empatiza mais com os animais.  Sim.

Pimenta nos olhos dos outros  não é refresco!

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Dez anos…

mala-e-cuiaDez anos atrás eu desembarquei na Espanha de mala e cuia… os saltos das botas se desfazendo pelo aeroporto, o coração dando pulos de felicidade, disposta a reconstruir minha vida num caminho completamente novo.Era o exílio… mas eu estava segura de que seguia meus sonhos mais importantes e que jamais estaria sozinha. Dez anos é tempo grande, sim. Dá para muita estória. Algumas eu já contei pelos blogs anteriores, outras se perderam do registro e ficaram apenas na memória. Demorei tempo demasiado em escrevê-las… uma pena.  Tantas outras se espalharam por dentro de mim, transformaram a minha vida devagarzinho, dia a dia… mas eu seria incapaz de recordar uma a uma agora.

Durante alguns anos eu escrevi sobre as viagens, sobre as cidades de Espanha, sobre os caminhos de terra de Santorcaz. Era um tempo bom, de paz e serenidade, vivendo no campo, com horas a mais todos os dias. Dava para aprender a mexer no computador, criar um blog e ainda por cima escrever um ou dois posts por semana. Fiz tantas viagens lindas, aprendi tanto sobre a história desse país, seus personagens extraordinários, sua arquitetura e sua gastronomia exuberantes… me apaixonei mais,cada dia mais… por tudo que agora fazia parte da minha vida.

Me apaixonei mais  também por olhos-de-mar-azul e isso me surprendeu muito. Como era possível amar tanto?

“Sempre que se começa a ter amor a alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na idéia, querendo e ajudando, mas quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer, e é um só facear com as surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota é depois.” Guimarães Rosa.

Às vezes eu sentia um medo de que algo passasse. Era beleza demais para ser “ a vera” E eu sentia pânico em imaginar que se acabaria de repente _ puft, se acabou, era de mentirinha uhhuuuuu!  Quando a idéia me pegava de surpresa, eu parava de respirar, olhava em volta…esperava… e nada. Tudo seguia de verdade.  Por quanto tempo ainda, se nada é para sempre?   Arregalava o olho no meio da noite, contava as estrelinhas pregadas no teto do quarto, sem luz, apagadinhas… olhava para ele dormindo ao lado, ressonando de leve … e sorria. Que delícia! As vezes eu ria de mim mesma. Se todas as mulheres do mundo se queixam que seu homens ressonam, porque eu gosto? Será que só eu sinto essa sensação de “lar”, de cumplicidade morna e doce? Aff… tô cada dia mais brega, pensava. E pior… isso deve ser muito perigoso!

Eu achava tão, tão, tão improvável esse negócio de amor à primeira vista, de reconhecer o sujeito no mesmo primeiro minuto… de amar mais cada dia. Eu achava que isso era mentira. Se voce ama, ama. Pronto. Já está. Que história é essa de sentir que está amando mais? Mas estava. Estava.

Bom…seis ou sete anos pasamos naquela casa. Dando voltas pelos caminhos de  areia e bosques de pinheiros, alimentando esquilos no jardim, recebendo os amigos, novos ou antigos, escutando música bem alto nas noites de lua, de chuva ou de neve, aprendendo a cozinhar e a compartir a vida e os sentimentos como nunca antes. Era tão forte que eu acho que ajudamos  um bocado de gente a ser mais feliz só sendo feliz junto deles…

Isso é bonito de contar. As pessoas diziam que se sentiam bem em nossa casa. Sentiam uma harmonia tranquila, um amor contagiante. Lá eles sentiam vontade de dançar, abraçar, conversar  sobre seus sonhos. Lá eles se beijavam mais. Uma vez uma das visitas disse que em uma semana em nossa casa havia beijado seu marido mais do que  o beijou nos ultimos dois anos… hahahhaha! A gente ria… mas era verdade.  As pessoas refletiam sobre suas vidas e seus sonhos. Alguns tomaram decisões importantes de mudanças porque começaram a acreditar que era possível ser feliz e que não era nada de outro mundo, nada de mágica transcendental… era só acreditar. E  agir. Viver.

456661_10151283467431893_1283091419_oPois… agora estou contando dez anos de Espanha. Dez anos com olhos-de-mar-azul. Ainda parece impressionante a nossa estória. Ainda conto às pessoas que me perguntam, _ “ versão curta ou versão longa?”_  com  a voz embargada e o sorriso de louca perdida. E eles ainda se surpreendem. De tudo. Do antes e do agora. Tanto se surpreendem com o que nos aconteceu antes que eu tenha vindo para viver uma vida tão diferente da minha no Brasil, quanto que tenhamos ido comemorar os dez anos juntos numa casa rural perdida nas montanhas, num lugar  quase desconhecido chamado La Coma y la Piedra, um pueblo minúsculo, em Lérida.  Se surpreendem que tenhamos passeado de mãos dadas pelos caminhos de neve, sozinhos, depois de 10 anos! Nós não. Para nós estar sozinhos no meio do mato é terreno conhecido, é repetir os primeiros tempos em Santorcaz, é confirmar quanto é natural estar um com o outro.

Um dia desses, eu estava tentando fazer um comentário no blog de Carolina, Una Vuelta del Destino,   e não entendi porque o WordPress me pedia um password. Mandei uma mensagem para o site e recebi uma nova senha. Surpresa! O blog Lingua de Mariposa estava todo aqui. Sem as fotos, mas com todos os textos e comentários.Consegui recompor as fotos dos posts e salvar tudo. Descobri também que um amigo brasileiro tem os arquivos do Cicatrizes da Mirada e que vai me mandar por correio. Quem sabe eu possa juntar os dois aqui. Eu gostaria.

Eu sei que a época brasileira dos blogs está meio fora de moda, desde que o Facebook e o Twiter entraram no cotidiano das pessoas, mas fiquei com uma pena danada de acabar com este.. Era tão bom escrever, guardar, ler depois…

Então acho que vai ser assim, como era bem no comecinho. Eu escrevia só para mim e  para alguns gatos pingados que me seguiam. Vou fazer isso… e vamos ver se ele consegue sobreviver, mais uma vez.

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Para mim mesma…

Eu guardei este texto para voltar a ele muitas vezes. Também para poder compartilhar com minhas velhas e novas amigas… Acho que ele é perfeito, embora  eu esteja, finalmente, tirando essa palavra do meu dicionário…

VOCABULÁRIO  FEMININO.

por Leila Ferreira

Se eu tivesse que escolher uma palavra- apenas uma -para ser item obrigatório no vocabulário da mulher de hoje, essa palavra seria um verbo de quatro sílabas: descomplicar. Depois de infinitas (e imensas) conquistas, acho que está passando da hora de aprendermos a viver com mais leveza: exigir menos dos outros e de nós próprias, cobrar menos, reclamar menos, carregar menos culpa, olhar menos para o espelho.

Descomplicar talvez seja o atalho mais seguro para chegarmos à tão falada qualidade de vida que queremos – e merecemos – ter. Mas há outras palavras que não podem faltar no kit existencial da mulher moderna. Amizade, por exemplo. Acostumadas a concentrar nossos sentimentos (e nossa energia…) nas relações amorosas, acabamos deixando as amigas em segundo plano.  E nada, mas nada mesmo, faz tão bem para uma mulher quanto a convivência com as amigas. Ir ao cinema com elas (que gostam dos mesmos filmes que a gente), sair sem ter hora para voltar, compartilhar uma caipivodka de morango e repetir as histórias que já nos contamos mil vezes- isso, sim, faz bem para a pele.

Para a alma, então, nem se fala.

Ao menos uma vez por mês, deixe o marido ou o namorado em casa, prometa-se que não vai ligar para ele nem uma vez (desligue o celular, se for preciso) e desfrute os prazeres que só um aboa amizade consegue proporcionar. E, já que falamos em desligar o celular, incorpore ao seu vocabulárioduas palavras que têm estado ausentes do cotidiano feminino: pausa e silêncio.

Aprenda a parar, nem que seja por cinco minutos, três vezes por semana, duas vezes por mês, ou uma vez por dia- não importa -e a ficar em silêncio.  Essas pausas silenciosas nos permitem refletir ,contar até 100 antes de uma decisão importante, entender melhor os próprios sentimentos, reencontrar a serenidade e o equilíbrio quando é preciso.

Também abra espaço, no vocabulário e no cotidiano, para o verbo rir.

a-madura-con-arrugasNão há creme anti-idade nem botox que salve a expressão de uma mulher mal-humorada. Azedume e amargura são palavras que devem ser banidas do nosso dia a dia. Se for preciso, pegue uma comédia na locadora, preste atenção na conversa de duas crianças, marque um encontro com aquela amiga engraçada – faça qualquer coisa, mas ria. O riso nos salva de nós mesmas, cura nossas angústias e nos reconcilia com a vida.

Quanto à palavra dieta,cuidado: mulheres que falam em regime o tempo todo costumam ser péssimas companhias.  Deixe para discutir carboidratos  e afins no banheiro feminino ou no consultório do endocrinologista… Nas mesas de restaurantes, nem pensar.  Se for para ficar contando calorias, descrevendo a própria culpa e olhando para a sobremesa do companheiro de mesa com reprovação e inveja, melhor ficar em casa e desfrutar sua salada de alface  e seu chá verde sozinha.

Uma sugestão?

Tente trocar a obsessão pela dieta por outra palavra que, essa sim, deveria guiar nossos atos 24 horas por dia: gentileza. Ter classe não é usar roupas de grife: é ser delicada. Saber se comportar é infinitamente mais importante do que saber se vestir.  Resgate aquele velho exercício que anda esquecido: aprenda a se colocar no lugar do outro, e trate-o como você gostaria de ser tratada, seja no trânsito, na fila do banco, na empresa onde trabalha, em casa, no supermercado, na academia.

E, para encerrar, não deixe de conjugar dois verbos que deveriam ser indissociáveis da vida :sonhar e recomeçar.  Sonhe com aquela viagem ao exterior, aquele fim de semana na praia , o curso que você ainda vai fazer, a promoção que vai conquistar um dia, aquele homem que um dia (quem sabe?) ainda vai ser seu, sonhe que está beijando o Brad Pitt …  sonhar é quase fazer acontecer.

Sonhe até que aconteça..

E recomece, sempre que for preciso: seja na carreira, na vida amorosa, nos relacionamentos familiares. A vida nos dá um espaço de manobra:  use-o para reinventar a si mesma.

E, por último (agora, sim, encerrando), risque do seu Aurélio a palavra perfeição. O dicionário das mulheres interessantes inclui fragilidades,  inseguranças, limites. Pare de brigar com você mesma para ser a mãe perfeita, a dona de casa impecável, a profissional que sabe tudo, a esposa nota mil.  Acima de tudo, elimine de sua vida o desgaste que é tentar ter coxas sem celulite, rosto sem rugas, cabelos que não arrepiam, bumbum que encara qualquer biquíni.

Mulheres reais são mulheres imperfeitas.

E mulheres que se aceitam como imperfeitas são mulheres livres.

Viver não é (e nunca foi) fácil, mas, quando se elimina o excesso de peso da bagagem (e a busca da perfeição pesa toneladas), a tão sonhada felicidade fica muito mais possível.

Leila Ferreira, está fazendo tratamento de um câncer de mama.

 

 

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Os Bons Tempos de Outrora…

Este texto vale a pena estar aqui. E vou publicá-lo justamente em contraposição a um artigo de Danusa Leão, divulgado nas redes sociais, onde ela explica porque não tem mais graça ir a Nova York. Ela diz que, se até o porteiro do prédio já pode ir, que é que ela vai fazer lá? Quem ficou sem graça foi eu,  quando li. Mas ela nem merece que eu divulgue a sua cretina opinião . Prefiro divulgar essa aqui.

Isaac Asimov

Sou muito dado ao otimismo com relação à ciência e tecnologia, e, nas minhas conferências, costumo pintar uma imagem rósea do futuro, contanto, naturalmente, que os novos conhecimentos sejam usados com sabedoria  (o que, devo admitir, não tem sido a norma). Nem sempre a plateia concorda comigo. Lembro-me de uma sessão de perguntas e respostas em que um jovem se levantou e contestou minha afrmação de que a tecnologia havia melhorado a qualidade de vida humana.

– Você teria sido mais feliz na Grécia Antiga? – perguntei.
– Teria – afirmou o rapaz, com a segurança que só os jovens parecem ter.
– Como escravo? – perguntei.
O rapaz se sentou sem dizer mais nada.

O problema é que as pessoas recordam os “bons tempos de outrora” – uma expressão que me causa profundo desagrado – de forma extremamente parcial. Para muitos, a Grécia Antiga signifca sentar-se na ágora e bater papo com Sócrates. Roma Antiga é freqüentar o Senado e discutir política com Cícero. Eles não se lembram de que nas duas civilizações apenas uma pequena elite aristocrática se dedicava a essas atividades e a imensa maioria da população era composta de trabalhadores braçais, camponeses e escravos.

É muito bonito romancear a Idade Média e sonhar em ir para a guerra usando uma armadura reluzente, mas para cada “cavaleiro andante” havia noventa e nove servos e aldeões que eram tratados pior que animais. Fico irritado com os admiradores incondicionais da América rural do século dezenove, quando tudo o que se fazia, aparentemente, era ficar sentado no quintal bebericando sidra. Além disso nos períodos de recessão não havia nenhum senso de responsabilidade social para com os desempregados; e a total inexistência de remédios eficazes, incluindo os antibióticos, fazia com que a mortalidade infantil fosse elevadíssima e a expectativa de vida muito menor que hoje em dia.

Também não me deixo impressionar pelos que olham para uma mansão construída em 1907 e exclamam, com um suspiro: “Puxa, não fazem mais casas assim! Veja quantos detalhes! Veja quanto capricho!”. Perco a paciência com as pessoas que estão sempre falando dos velhos tempos, quando os artesãos tinham orgulho de sua profissão e faziam de cada objeto uma obra de arte única, enquanto que hoje em dia máquinas sem alma produzem cópias e mais cópias de artigos baratos.

Vamos colocar as coisas na sua verdadeira perspectiva. Você sabe por que era possível construir lindas mansões em 1907? Porque a mão de obra era barata, de modo que você podia se dar ao luxo de contratar dezenas de empregados para construir a mansão e dezenas de criados para mantê-la  funcionando. E por que a mão de obra era barata? Porque a maioria das pessoas vivia em um estado permanente de fome e miséria. O fato de que alguns podiam ter mansões estava ligado de perto ao fato de que quase todos viviam em casebres. Da mesma forma, quando os artesãos produziam laboriosamente obras de arte, essas obras eram em número muito reduzido e constituíam o privilégio de uma reduzida casta de patrícios (ou nobres, ou banqueiros); o povo tinha que se virar mesmo era com casas de pau a pique. Se as mansões são raras hoje em dia porque a população em geral vive muito melhor, fico satisfeito com isso. Se os objetos utilitários são menos artísticos para que mais pessoas possam desfrutá-los, acho que a mudança foi para melhor. Isso me torna aquele personagem terrível, um “liberal” que se preocupa com o bem estar dos pobres, e não com os yuppies? Acho que sim, mas há mais. Meu ponto de vista também é bastante prático e egoísta.

Minha primeira mulher uma vez se queixou de que não conseguia encontrar alguém para ir à nossa casa uma vez por semana para fazer alguns serviços domésticos. Ela disse:
– Gostaria de ter vivido há um século, quando era fácil arranjar criados.
– Pois eu, não – repliquei – Porque nós seríamos os criados.

Acontece que não descendo de uma longa linhagem de aristocratas, de modo que certamente não seria um dos poucos privilegiados destinados a gozar das boas coisas da vida. O mesmo é verdade para a maioria dos que recordam com saudade os “bons tempos” de outrora, mas tenho consciência disso, e eles, aparentemente, não.

Os Bons Tempos de Outrora foi publicado no primeiro número da edição Brasileira de Isaac Asimov Magazine. Baixe outras edições e livros clássicos de ficção científica aqui:
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